Eu te darei o Sol, de Jandy Nelson

Sou fascinado por dramas adolescentes. Confesso. Qualquer Young Adult (YA) já me arrebata. O que “Eu te darei o Sol” fez comigo é inexplicável, porque ele é muito mais que isso. Começo dizendo que estou admirado com o esforço e paciência da autora para criar algo tão diferente, real e esplêndido. Era um alívio quando eu acordava e via o livro ali do lado da minha cama, principalmente em dias difíceis. Tentei ler com calma, mas nas últimas páginas foi impossível. Tive que criar uma linha frenética de leitura paralela aos acontecimentos excitados dos últimos capítulos para não tornar a leitura um julgo desigual.

Autoretrato: Cara de vinte e cinco anos pilotando uma nave feita de livros viajando para a eterna adolescência.

Lidamos aqui com os gêmeos Noah e Jude. Filhos de uma mãe com alma artística e um pai cientista os dois são assustadoramente inteligentes e sensíveis à arte. Eles possuem a famosa “coisa de gêmeos” que é uma ligação que transcende todas as forças naturais unindo suas almas. A amizade dos dois é algo elevado e íntimo,  mesmo na disputa pela atenção dos pais e por uma vaga na melhor escola de arte da Califórnia. Mas um garoto novo no bairro, mal-entendidos, mentiras, medos, corações partidos e uma perda trágica desencadeiam na vida dos dois um série de desilusões a ponto de perderem suas almas para opositores e ambos deixando de escanteio sua melhor qualidade: a  autenticidade. 

Noah é recluso. Possui poucos amigos – quase nenhum. Desenha com tanto prazer que isso se torna a coisa mais importante de sua vida.  Tem total atenção e admiração de sua mãe, o que leva sua irmã, Jude, sopitar de ciúmes. Ele é visto pelos outros como “o estranho” e trava  uma guerra interna com sua sexualidade. Jude é singular, livre e extremamente supersticiosa. Ela surfa e vive à risca tudo que está escrito na bíblia de superstições que sua avó deixou pra ela – e muitas vezes  a própria senhora Sweetwine vem lembrá-la  de algumas passagens. Pelo menos ela jura que é sua avó, aliás 22% da população se comunica com quem já se foi (segundo ela também).


O livro é dividido em capítulos alternando a narração dos irmãos. E o interessante é que o livro não é linear. Noah narra sua visão quando tinha entre treze e quatorze anos.  Jude narra sua vida aos dezesseis. E de uma forma inteligente e consistente, sem deixar vazios no livro, os acontecimentos se entrelaçam e, de uma forma perfeita,  se completam. 

Resenhando a história parece comum e simples, mas a capacidade deste livro de cavar emoções enterradas dentro de nós é impressionante. Não brinco quando digo que perdi o fôlego em algumas passagens. É o tipo de  livro que te arranca lágrimas e sorrisos de uma só vez. Você sente o gosto salgado das  lágrimas quando ainda está gargalhando.  

Eu sempre gosto de criar uma playlist para os livros que leio. E a música principal da trilha sonora de “Eu te darei o Sol” para mim é a música “Estranho Jeito de amar”  de Sandy e Júnior. Pelo seguinte fragmento da música:

“Quanta bobagem tudo o que se falou. Me olho no espelho e já nem sei mais quem sou. Quanto talento pra discutir em vão. Será tão frágil nossa ligação? Não tem que ser assim, tanto desencontro, mágoa e dor. Pra quê que a gente tem que se arriscar? Então volta pra mim,  deixa o tempo curar esse estranho jeito de amar. ”

Quem já leu ou quem ainda vai ler este livro vai entender bem que realmente não tem que ser assim, com tanto desencontro, mágoa e  dor.



Título: Eu te darei o Sol
Autor: Jandy Nelson
Editora: Novo Conceiro
Páginas: 381


"Estávamos todos caminhando um para o outro num percurso de colisão. Talvez algumas pessoas estejam destinadas a estarem na mesma história."

O amor é embaraçado. É um delírio imaginar que é possível amar sem se doer. Por mais evoluídos que possamos ser, sempre haverá em nós algo erodente capaz de desmoronar os outros. Mentimos para proteger quem amamos. Mas a mentira nunca salva. Ela corrói tudo e todos e até quando ela é usada para acolhimento ela causa dor. O equilíbrio emocional é uma linha tênue entre aceitar a realidade e suportá-la. Tentamos viver esse rascunho da melhor forma possível e falhamos vergonhosamente sempre que nos apaixonamos pela idealização de vidas e pessoas perfeitas. O que nos faz forte é apanhar das diferenças e encontrar em nosso oposto a cura.

Em "Eu te darei o Sol" Jandy Nelson trabalha uma escrita figurativa e cheia de metáforas. É algo inteligente e bonito. O livro trata também de temas importantíssimos como estrutura familiar, homossexualidade, abuso e bullying. Li em algum lugar que a autora levou um tempinho para escrever toda a história e isso é extremamente compreensível quando enxergamos a qualidade de um produto tão realista e atraente.

Estou muito feliz por ter concluído esta leitura e a recomendo fortemente para todas as pessoas que desejam viver alguns momentos de grandes emoções. Carregarei o livro e seus personagens por muito tempo com muito carinho em meu coração.


Muito obrigado por ler até aqui. Até a próxima, grande abraço. 

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