A Fúria, de Alex Michaelides.

Assim como a maioria das pessoas, conheci o Alex Michaelides através de seu primeiro suspense publicado no Brasil: A Paciente Silenciosa. Foi, inclusive, uma indicação da Amanda, criadora deste blog. Minha primeira experiência com o autor foi incrível. Recomendo o livro sempre que tenho oportunidade. A segunda experiência foi bem diferente da primeira, mas também tem um parecer positivo. Li A Fúria freneticamente graças ao poder de cativação que a escrita do autor tem.

A Fúria é o terceiro livro de Michaelides publicado aqui no Brasil e nele vamos ser apresentados a Lana, uma ex-atriz de Holliwood que se aposentou sem dar muitas explicações no auge de sua carreira e foi viver em Londres. No entanto, Lana não gosta muito de Londres e sempre que pode foge para uma ilha que possui na Grécia, presente de seu ex-marido (dinheiro pouco é bobagem). Em um de seus momentos de tédio em Londres ela resolve convidar Elliot, seu melhor amigo e nosso querido (e irônico) narrador, Kate, uma atriz em ascensão que é uma amiga próxima, mas um pouco competitiva, para passar o feriado de Páscoa nesta ilha com seu atual marido, Jason e seu filho, Léo. Há, além desses personagens, dois funcionários nesta ilha que compõe então, um grupo de seis pessoas. 

Logo no início do livro descobrimos que um assassinato aconteceu quando apenas essas seis pessoas estavam na Ilha. E eles precisam lidar com essa tragédia entre eles, uma vez que, A Fúria, o vento furioso da Ilha (daí o título), impede a chegada da polícia ou qualquer tipo de ajuda no local. Começa então a famigerada investigação para descobrir quem morreu e quem matou. Quem morreu descobrimos ainda no início na história, agora, quem matou? Só digo uma coisa: plot-twist dentro de plot-twist.

Talvez pareça uma história óbvia a princípio, no entanto, aqui o Alex nos prova (de forma até esnobe) que ele escreve muito e tem um poder de transformação surreal. Este livro é narrado em primeira pessoa pelo Elliot. E nós, leitores, somos convidados a sentar em uma mesa de bar com ele enquanto ele nos paga uma cerveja e conta tudo que aconteceu. É um livro bem ritmado, então em momento algum divagamos. Passamos as páginas de forma imperceptível, e é uma delícia pegar um livro assim, não é mesmo? A narrativa é algo totalmente diferente de tudo que já li e vou entender totalmente se alguém odiar. O autor arriscou muito trazendo essa inovação. E tudo que foge do tradicional pode causar um estranhamento em algumas pessoas. Eu, particularmente, achei genial. Porém, como todo livro narrado  em primeira pessoa temos uma deficiência de pontos de vista, uma vez que somos limitados ao ponto de vista de quem nos narra, e neste caso é pior, já que o nosso narrador não é nada confiável. 

Título: A Fúria
Autor: Alex Michaelides
Tradução: Adriano Scandolara
Editora: Record
Páginas: 336

Outro ponto que achei sensacional foi que o livro é dividido em Atos, ressaltando que o Elliot é escritor de roteiros e como já mencionado temos duas atrizes na história, além de um garoto que quer muito ser ator, o Léo. Então o que temos aqui é um autor casando a forma de escrita do livro com o que está acontecendo e isso é muito divertido.

No meio disso tudo Alex Michaelides ainda consegue trazer algumas reflexões que são importantes encaixes na história e que nos abraça intimamente como é o caso da citação abaixo: 

"Depois que vi a criança em mim, comecei a ver as crianças nos outros - todas vestidas de adultos, fingindo estar crescidas. Eu passei a enxergar o que estava por trás daquela performance, vendo a criança assustada embaixo daquilo. E quando você pensa em alguém como criança, é impossível sentir ódio. A compaixão vem  à tona e..."   

A fúria carrega em si uma história normal e real de amizade, traição, exagero, ganância, muitas reviravoltas, o que são características típicas de quase todos suspenses que lemos. No entanto o que difere este dos outros é o contato íntimo que temos com o narrador e o jogo de obviedade que é posto pra gente, com um único intuito: passar uma rasteira e nos fazer levantar batendo palmas para a construção extraordinária do autor. Recomendo muito. 

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