Controle, de Natalia Borges Polesso

Logo após uma péssima experiência de leitura comecei a ler o livro Controle, da autora Natalia Borges Polesso. Nas primeiras páginas já fiquei tão preso que o desejo de engolir o livro de uma só vez foi intenso. Eu acredito muito na lei da atração e sinto que o meu interior recebeu este livro como um presente que ele precisava naquele momento. Este é o tipo de livro que nos revigora quando chegamos quase a esquecer do quão generosa uma leitura pode ser, nos tira do automático e traz de volta as emoções de uma boa leitura. Me antecipo dizendo que recomendo muito a leitura de Controle e que desejo muito ler outras coisas dessa autora que fez um trabalho genial aqui.

O livro traz como protagonista Maria Fernanda, que foi uma criança esperta, intensa e que amava viver aventuras com sua turma de amigos. Fazia de tudo e era super apaixonada por bicicletas e pelas emoções radicais que elas podem proporcionar. Teve uma infância comum acompanhada de seus amigos, sendo os principais, Joana, Davi e Alexandre. Fez tudo que uma criança normal podia fazer. Deu até um selinho quando cursava o sétimo ano. Foi em algum momento entre a pré-adolescência e a adolescência que algo aconteceu. Uma queda. Uma crise. Uma estranhez. Um diagnóstico: Epilepsia. 

Depois da primeira crise vieram várias outras e mais outras. Surgiram no meio do furacão as piadinhas maldosas dos colegas, a superproteção dos pais, o afastamento, a vida infrequente. Nanda não era mais tão autêntica, aprendeu a viver dentro de uma concha que a isolava da vida real. Só existia uma realidade pra ela agora, a doença. Depois de diagnosticada com "atividade excessiva e anormal de células cerebrais" veio limitação, a falta de esforço, a acomodação e o pior perigo de todos: a zona de conforto. Seus pais resolviam tudo e foi assim que tomaram o controle de sua vida. 


Alguns amigos se afastaram e o contrário também aconteceu. Joana e Davi resistiram e continuaram sendo os melhores amigos de Nanda. Os anos foram passando. As pessoas entravam e saíam da faculdade, arrumavam emprego, tinham filhos, se casavam e já no final da casa dos vinte, Maria Fernanda parecia estagnada, vivendo uma vida tristemente pausada. Era como se tudo estivesse em movimento e ela não. Seu corpo mudou, seus desejos mudaram, mas não havia mais nem sonhos e nem planos. Sua vida resumia na superproteção dos pais, na insistência dos amigos e claro, na epilepsia. 

Maria Fernanda percebe na relação com sua melhor amiga, Joana, um amor mais caloroso e um carinho excessivo. Algo dentro dela parece errado e ela começa a questionar seus desejos sexuais. O que houve com a normalidade? Nada seria normal na vida dessa jovem? É aí que entra a grande questão: A normalidade, de fato, existe? Ou é apenas uma suposição criada por nós mesmos baseado no que é mais comum? Existe um desenrolar incrível neste livro quanto a isso. A autora trabalha esse assunto de uma forma digna e natural. Enxergamos a realidade aqui. Quem viveu na pele tais questionamentos quanto a sexualidade vai se identificar muito com os da personagem principal.


Título: Controle
Autor: Natalia Borges Polesso
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 172

Controle é um livro sutil. Com poucas páginas e muita delicadeza são tratados assuntos que na maioria das vezes são difíceis de serem abordados. O livro nos abraça, pelo menos me abraçou. Eu tive vontade de rever muita coisa em minha vida e eu amo quando isso acontece. Sinto que a leitura foi útil e dessa vez, necessária. O que mais me emocionou na leitura foi perceber que não existe um momento exato para recomeços e pode passar o tempo e tudo mudar, mas a vida vai continuar sendo vida, cheia de possibilidades. E pra quem gosta de referências musicais em livros este é ideal, pois o livro é todo recheado com citações de letras da banda New Order.

A escrita da Natalia é sincera, informal e poeticamete cativante. A leitura foi tão envolvente que passei alguns dias sentindo falta não somente dos personagens como é comum acontecer, eu sentia falta também da escrita dela. Da concentração que ela proporciona. Tem paixão no trabalho dessa autora e isso é muito significativo para nós leitores, a gente saber que ainda existem pessoas atuais tão dedicadas à escrita. Isso é grandioso e perigoso, pois quando a escrita é mágica ela pode delicadamente roubar o controle de nossas vidas por algumas horas. 

Muito obrigado por ler até aqui. Até a próxima, grande abraço. 

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