Deus ajude essa criança, de Toni Morrison

Deus ajude essa criança foi o livro que selecionei para ler em fevereiro na minha meta dos 12 livros para 2019. Fiz uma lista temática escolhendo, para cada mês, um autor ou autora aniversariante. A autora do mês, Toni Morrison, completou 88 anos no dia 18 de fevereiro.

Toni Morrison é escritora, editora e professora estadunidense. Publicou o seu primeiro romance em 1970, aos 39 anos. E, 23 anos após seu primeiro romance ter sido publicado, recebeu o prêmio Nobel de Literatura. Sendo, em 1993, a primeira mulher negra a receber esse prêmio.

Deus ajude essa criança (God Help the Child no original) foi publicado em 2015 (chegou ao Brasil em 2018 pela Companhia das Letras) e é o décimo primeiro romance da autora. Toni Morrison é negra e o racismo é tema frequente na maioria das suas obras. Nesse livro, além do racismo a autora aborda também o colorismo.

A questão do colorismo já havia sido abordada pela autora em seu primeiro romance, O olho mais azul (livro que ficou esgotado no Brasil por algum tempo, mas recentemente ganhou nova edição pela TAG Curadoria). Explicando de maneira simplificada, colorismo significa que quanto mais pigmentada for a pele de uma pessoa, mais excluída e discriminada ela será. Isso significa que a tonalidade da pele de uma pessoa negra poderá diferenciar a forma que ela é tratada, sendo ‘melhor aceitos’ os tons mais claros.

Detesto dizer isso, mas desde o comecinho, no berçário, a bebê, a Lula Ann, me dava vergonha. A pele de nascença dela era clara como a de todo bebê, mesmo os africanos, mas mudou depressa. Eu quase fiquei louca enquanto ela ia ficando preto-azulada bem na minha frente. Eu sei que enlouqueci por um minuto porque uma vez — só por uns segundos — botei um cobertor na cara dela e apertei. Mas não consegui fazer aquilo, por mais que eu quisesse que ela não tivesse nascido daquela cor.


Deus ajude essa criança traz a história de Lula Ann Bridewell — ou apenas Bride, forma pela qual escolheu ser chamada depois de adulta. E em razão da tonalidade muito escura de sua pele, Bride foi rejeitada desde o seu nascimento — inclusive pelos próprios pais, pois eles não tinham a tonalidade da pele escura como ela. Seu pai abandonou o lar e culpou a esposa pela cor da filha. E a mãe sempre foi incapaz de demonstrar qualquer tipo de amor ou afeto pela filha. Ela não permite nem que a própria filha a chame de mãe, desde pequena pede para que seja chamada de Mel.

A cor dela é uma cruz que ela vai carregar pra sempre. Mas não é minha culpa. Não é minha culpa. Não é minha culpa. Não é.

Ao avançarmos na leitura temos contato tanto com a infância de Bride quanto com sua vida adulta. E descobrimos que o fato de nunca ter recebido amor e afeto na infância, fez com que ela tomasse uma decisão extrema em uma tentativa de se sentir importante e amada. Quando adulta, atingiu o sucesso profissional e demonstrava para todos a sua volta, ter aprendido lidar com suas fraquezas e carências do passado. No entanto, quando a conhecemos melhor, percebemos o quanto ainda está fragilizada e insegura. 

Bride conseguiu camuflar por um tempo, até para ela própria, suas questões não superadas. Mas em algum momento ela precisaria enfrenta-las, pois isso refletia muito forte em sua vida. Na sua forma de se relacionar com as pessoas, principalmente. Ela não conheceu o amor na sua infância, então, não sabia como transmitir amor, nem como aceita-lo.

Esse livro traz, sim, uma história sobre racismo e colorismo, mas é também uma história sobre abusos e sobre traumas. Principalmente aqueles sofridos durante a infância e que podem refletir, muito forte, nas nossas decisões ao longo da vida. Nosso passado não fica realmente para trás. Ele continua em nós. O que nos define é a forma como seguimos adiante. Nosso passado continua refletindo nas nossas ações, nos nossos medos, no nosso jeito de pensar e ver o mundo. Seja consciente ou inconscientemente o carregamos conosco.

O título dessa obra é, simplesmente, fantástico e só percebi a sua dimensão ao final da leitura. Antes, pensei que se referisse apenas à protagonista, mas não. É um título geral, se refere a todos nós, pois todos estamos sujeitos a viver situações capazes de deixar marcas irreparáveis.

Escute o que eu digo. Você está para descobrir como é a coisa, como é o mundo, como ele funciona e como ele muda quando a gente é mãe. Boa sorte e que Deus ajude essa criança.

É um romance curto, mas intenso. Temos capítulos narrados em primeira pessoa por diferentes personagens e isso nos permite uma visão mais ampla de toda a história. À medida que esses personagens vão surgindo na história, conhecemos seu presente e alguns traumas de seu passado. Apenas achei o texto um pouco fragmentado. Ao terminar a leitura tive a sensação de conhecer vários pontos isolados da história de vida deles, senti falta de um maior aprofundamento e uma conexão entre tudo que lemos.

Deus ajude essa criança foi o meu primeiro contato com a escrita da Toni Morrison. Foi uma experiência de leitura marcante e muito válida, espero ter oportunidade de ler outros livros da autora.

DEUS AJUDE ESSA CRIANÇA, de Toni Morrison


Título: Deus ajude essa criança
Título original: God Help The Child
Autora: Toni Morrison
Tradução: José Rubens Siqueira
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 168
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