A Invenção das Asas - Sue Monk Kidd

A Invenção das Asas foi o meu primeiro contato com a autora Sue Monk Kidd, mas seu nome não era estranho para mim, pois já tinha ouvido falar — muito bem — de outro livro de sua autoria, A Vida Secreta das Abelhas. A minha primeira experiência com a autora foi maravilhosa, seu lançamento de 2014 traz uma história comovente e, baseada em fatos e personagens reais.

O livro é narrado, em primeira pessoa, sob o ponto de vista de duas personagens: Hetty — ou Encrenca — e Sarah. Os capítulos vão se alternando entre a narrativa das duas e, através deles vamos acompanhar a trajetória dessas mulheres ao longo de 35 anos. O fato de o livro ser em primeira pessoa enriquece a história, pois com isso é possível que o leitor se sinta mais íntimo das personagens. O vínculo criado entre leitor-personagem-história fica mais intenso.

Sarah Grimké é filha de um aristocrata, um juiz de grande renome e proprietário de escravos. Hetty é uma das escravas na propriedade da família Grimké, em Charleston, Carolina do Sul. A princípio, elas podem parecer bem distintas, mas existe algo em comum dentro delas: uma inquietação, uma insatisfação, e isso fará toda a diferença.

A história tem início em novembro do ano de 1803 com o aniversário de 11 anos de Sarah e o seu presente é uma escrava, a Encrenca, que tinha apenas 10. Desde o primeiro momento, Sarah tem repudio a essa ideia de ganhar uma pessoa de presente. Desde muito nova ela demonstrava ter ideias abolicionistas. Mas além de muito jovem, ela era mulher. Então, até certo tempo, suas vontades e seus pensamentos, eram quase que completamente ignorados. E, muitas vezes, quando ela tentava mudar, um pouco, a realidade ao seu redor, ela era punida por isso.

‘“Mamãe, por favor, deixe... deixe-me devolver Hetty pra você.” Devolver Hetty. Como se ela fosse minha. Como se ter pessoas fosse tão natural quanto respirar. Apesar de toda a minha resistência em relação à escravidão, eu respirava aquele ar doente também. ’ Página 21

No livro, a autora resolveu dar voz a Sarah Grimké, mas ela não travou essa batalha sozinha. Juntamente com sua irmã mais nova, Angelina, elas se tornaram uma das maiores abolicionistas dos Estados Unidos. A diferença de idade entre Sarah e Angelina — ou Nina — é grande — treze anos —, então a Angelina demora um pouco para aparecer na história, mas nem por isso sua presença deixa de ser marcante.

Na infância e início da adolescência, o desagrado da Sarah em relação à escravidão é forte. Mas, por volta dos seus dezessete anos, percebemos que, por mais que esse fato ainda a incomode bastante, as suas tentativas de alterar algo dessa realidade, ameniza um pouco. Mas como sua irmã, Angelina, nutre os mesmos anseios de mudança, elas acabam reunindo forças e descobrindo a coragem e potencial que possuem, e assim elas se unem ainda mais e abraçam a causa juntas.

É inevitável que a narrativa se torne triste em alguns momentos. E isso acontece por vários motivos: as punições que os escravos sofrem; a tristeza que os assola quando um deles é vendido, pois eles criam laços, mas em um dia qualquer um deles pode ser levado para outro lugar e nunca mais terão notícias uns dos outros; e a situação de desalento que as irmãs Grimké se encontram algumas vezes, como elas abriam mão das coisas para continuar seguindo o que elas tinham como objetivo maior em suas vidas.

“Escolhi o arrependimento com o qual poderia viver melhor, só isso. Escolhi a vida à qual pertencia.” Página 256

Por mais que a narrativa seja triste em alguns momentos, o livro nos apresenta uma história bonita. E digo isso pelo fato das personagens continuarem acreditando mesmo diante das dificuldades. Vez ou outra a crença que elas depositavam na mudança vacilava, e isso é normal. Quando queremos que algo aconteça, mas o resultado demora aparecer, ficamos desiludidos, às vezes. Mas mesmo com os obstáculos elas não deixaram seus desejos morrerem, mesmo que o desânimo as assombrasse em alguns momentos, elas continuaram tentando. Talvez o grande segredo esteja justamente nessa palavra: tentar. A mudança pode não acontecer nem no momento, nem do jeito que você espera, mas da sua coragem, da sua vontade, vai resultar algo.

Sinto que poderia escrever sobre esse livro e seus personagens durante horas a fio. Porque a partir das escolhas que fizeram, é possível absorver uma infinidade de coisas. É a história de duas mulheres lutando não somente contra a escravidão, mas lutando também pela igualdade racial e pelos direitos das mulheres. É a história de duas escravas incapazes de aceitarem a situação que se encontravam. É uma história intensa escrita por pessoas de coragem.




Título: A Invenção das Asas
Título Original: The Invention of Wings
Autora: Sue Monk Kidd
Tradução: Flávia Yacubian
Páginas: 328
Editora: Paralela

OBS: A Invenção das Asas é um lançamento. O livro foi publicado nos Estados Unidos em Janeiro de 2014 e, no dia 7 de fevereiro desse mesmo ano o livro será publicado aqui no Brasil pela Editora Paralela. O exemplar que li foi uma cópia antecipada para divulgação que recebi da própria Editora.


:: VÍDEO RESENHA A INVENÇÃO DAS ASAS ::

15 comentários:

  1. Adorei a resenha e adorei a história! Fiquei curiosa pra ler...

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  2. Curiosidade a mil! Sempre gostei de histórias que contam o passado, e essa relação entre escravo e patrão me instiga muito a correr atrás de novos pontos de vista e descobrir qual eram os verdadeiros sentimentos em que divergiam ou consentiam. Quero ler assim que lançarem!

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  3. Estou esperando muito pelo lançamento desse livro. Acho a premissa muito boa, e adoro livros de época : )
    Além do mais, essa capa já é motivo o suficiente pra deixar qualquer um curioso. Linda demais <3
    Espero poder lê-lo o mais breve possível '-'
    Ótima resenha, Amanda!

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  4. Gostei da muito da resenha, nunca li nada neste estilo, mas fiquei curiosa para ler este livro.

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  5. Oi Amanda!

    Também nunca li nada da autora, apesar de, como você, já ter ouvido muito sobre "A Vida Secreta das Abelhas" (aliás, cheguei a assistir ao filme). Mas acho que esse livro em especial chamou minha atenção justamente pela história: eu amo livros de época. Além do mais, parece ser uma trama bem "forte". Fiquei bastante curiosa mesmo.

    Beijos!

    http://roendolivros.blogspot.com.br/

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  6. Quero muito ler! A vida secreta das abelhas tambem é filme! Eu nem sabia que era um livro :P Mas agora quero ler os dois! :)

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  7. Gosto desses livros que retratam momentos históricos, como esse. Não conhecia o livro e nem a autora, foi ótimo conhecer. Esse livro também me chamou muito a atenção por ser a narrativa alternada entre dois personagens.

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  8. Só o título me deixou curiosa, e depois de ler sua resenha fiquei apaixonada pela historia porque eu amo um bom drama.
    Ótima resenha, beijos.
    www.vicioempaginas.com.br

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  9. Amei a resenha, com certeza entrou para minha lista! :)

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  10. Então, eu nunca li um livro que abordasse a escravidão da forma que você está falando, quero dizer, CLARO que li livros que envolviam escravos, mas superficial, nada como o sofrimento da venda de um e tal...Gosto de historias que não precisem de rapazes para se desenvolver, já que hoje em dia todos os livros envolvem romances...
    Mulheres lutando pelo seu ideal, por suas crenças... ♥
    Nunca li nada dessa autora, fiquei com vontade... :P
    Boa resenha, nem demais nem de menos informações... :)

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  11. O título já tinha me chamado a atenção... E com a sua resenha só me deu ainda mais vontade de ler!

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  12. Gosto muito de livros que se passam em outra época, já que eu gosto muito de história, e o tema que esse livro aborda também me atrai bastante e isso somado ao fato de ser baseado em fatos reais, tornou "A Invenção das Asas" um dos lançamentos que mais me interessaram. E essa é a segunda resenha completamente positiva que eu li a respeito dele, então não vejo a hora e ler. ;D

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  13. Oi Amanda
    O livro parece que é forte, triste, mas lindo neh?
    Os pontos de vista, os anseios e as lutas das personagens são extremamente reais e acredito que por isso a leitura deve prender o leitor até a última página.
    Tenho que admitir que não curto muito livros "históricos" mas esse me chamou bastante atenção pelo contexto em si. A narrativa - sensível e tocante - parece que ganha outro ponto positivo. Me parece um relado belo e também inspirador.
    Adorei a resenha
    Bjus

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  14. Oi Mandinha, esse é um livro que se não fosse pela sua resenha não teria me interessado. Parece uma história triste, porém tocante. Adoro livros que mexem com a gente. Valeu a dica. Beijos, Mi

    www.recantodami.com

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