Quatro velhos, de Luiz Biajoni

Possivelmente uma das nossas maiores falhas é não valorizar os bons momentos comuns do nosso dia a dia. Muitas vezes só valorizamos os dias atípicos em que fazemos algo bom que foge da rotina. Mas há beleza nas ações rotineiras, nós é que precisamos mudar o nosso olhar.

Essa leitura me marcou por vários motivos, mas principalmente por me fazer olhar com mais cuidado para os pequenos prazeres do cotidiano. Somos instantes. Então, que saibamos apreciar todos eles.

Mas, nesses mais de quarenta anos, a impressão que ele tinha é a de que fizeram pouco, muito pouco, juntos. Muitas vezes ele chegava tarde em casa e ela já estava dormindo. Ou ela estava passando mal de cólicas menstruais. Ou ele passava o final de semana analisando gráficos da empresa. Não sabia precisar, mas parecia, a ele, que tinham passado pouco tempo juntos, tinham desfrutado pouco em conjunto. (Página 57)

No prólogo do livro o autor — Luiz Biajoni — nos conta que desenvolveu esse romance a partir de um boato que ouviu no final dos anos 1980, que dizia que um morador de uma cidade pequena do interior paulista seria filho bastardo do ditador italiano Benito Mussolini. Por querer saber mais sobre esse boato, acabou conhecendo a história de outros três personagens e é essa a história que ele nos conta. Porém, esse boato é apenas um detalhe da história, o foco está nas relações entre esses personagens.

Quatro Velhos nos apresenta a história de dois casais. Lando e Ciça; casados há 52 anos, moram na mesma casa desde que se casaram, atualmente aposentados levam uma vida simples com uma rotina tranquila. Mas a vida pacata que levam será transformada quando o casal Roland e Guinevere se mudam para a casa vizinha, também casados, porém levam a vida de jeito mais agitado e com o avançar da história nós entendemos porquê. E esse é o enredo desse livro, nós acompanhamos alguns meses da vida desses dois casais da terceira idade.

Terminei essa leitura há alguns dias e, sempre que parei para tentar escrever sobre ela, fiquei me perguntando: como descrever essa história e os sentimentos que ela me trouxe? E isso porque é uma história muito simples, mas o autor consegue tirar do que é simples, rotineiro e comum, algo muito especial. O autor consegue transmitir incrivelmente bem como se dá uma relação de anos de convivência. Mostrar o amor, o carinho, o cuidado, o companheirismo que estão presentes nos pequenos gestos do dia a dia.

Eu não vivi uma relação de muitos anos como os casais dessa história, então não posso falar por experiência própria, mas esse livro me cativou também porque eu lembrei muito dos meus pais. Eles vivem uma relação de muitos anos. E as situações que eu lia me pareciam muitos reais e me tocavam porque eu me lembrava dos meus pais; dei risada e me emocionei ao longo das páginas.

Com capítulos curtos, dinâmicos e uma escrita envolvente o autor nos mostra sua competência para criar uma boa história a partir de uma premissa simples. Muitas vezes nos admiramos apenas por histórias fantásticas, com outros mundos, muitas reviravoltas e situações mirabolantes — claro que essas também têm o seu mérito. No entanto, para criar uma boa história a partir de fatos e situações que, muitas vezes, passam despercebidas a nossos olhos, é necessário muita sensibilidade, capacidade que eu considero admirável e que o autor demonstrou ter ao nos contar essa história.

Título: Quatro Velhos
Autor: Luiz Biajoni
Editora: Penalux
Páginas: 172

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