O Segredo de Brokeback Mountain - Annie Proulx

Sinopse


Annie Proulx escreveu um dos contos mais originais e inteligentes da literatura contemporânea, e, para muitos leitores e críticos, O segredo de Brokeback Mountain é sua obra-prima. Ennis del Mar e Jack Twist, dois peões de fazenda, se encontram num verão quando estão trabalhando como ovelheiro e coordenador num pasto acima da alameda. A princípio, dividindo uma barraca isolada, a atração é natural, inevitável, mas algo mais profundo os arrebata naquele verão. Ambos dão duro, se casam e têm filhos, porque é isso que os vaqueiros fazem.  Mas, ao longo de muitos anos e de freqüentes separações, essa relação se torna a coisa mais importante de suas vidas, e eles fazem tudo que podem para preservá-la. Numa linguagem deslumbrante que nos fica na cabeça, Proulx conta a difícil e perigosa relação entre dois vaqueiros, que sobrevive a tudo, menos à intolerância violenta do mundo.
Acredito que só existe uma expressão: ah meu Deus! Isso porque esse foi um livro incomum: o único em que digo, e reafirmo, que prefiro a adaptação do cinema.

Brokeback Mountain foi escrito originalmente como um conto de uma revista e talvez por causa disso, o livro seja tão pequeno (72 páginas). Proulx se valeu de uma linguagem rasgada, sem rodeios, direta em sua verdade. Clichês do Velho Oeste americano estão presentes não por mera convenção, mas porque existem. Contudo, devido a curta narrativa, não se extrai a carga emotiva de cada momento que Enin passa ao lado de Jack (algo que no filme é largamente explorado).

A história narra a trajetória de dois jovens vaqueiros que passam todo um verão em uma montanha isolada, pastoreando as ovelhas. O tempo passa e com ele uma atração nasce e só faz aumentar. Logo Jack e Enin estão muito envolvidos e constroem um amor acima de quaisquer paradigmas de uma sociedade preconceituosa e opressora.

Tudo acontece muito rápido. A passagem de tempo não é boa e não existe divisão por capítulos. Ressalto aqui que não tenho qualquer tipo de preconceito quanto a livros pequenos (pra quem não sabe, Água Viva, de Clarice Lispector, meu livro favorito, tem menos que 100), mas existem histórias que 72 páginas absolutamente não comportam.

O Segredo de Brokecack possui um mote tão bom que deveria ter sido melhor explorado. É uma história pontuada de sarcasmo sem igual. Não se encaixa em nenhum paradigma, abolutamente. Annie Proulx cria um texto paradoxal entre os cowboys de Hollywood (tá, Ennis e Jack também culminaram em Hollywood, mas isso não vem muito ao caso) e os seus próprios. É o tipo de livro que possui assunto pra 400 páginas, sabe?

Mas palmas para um feito da autora: consegui sentir pena de uma personagem. Alma, ex-mulher de Ennin. Em uma passagem do livro, ela fala com o ex-marido:
_ Você ainda sai para pescar com aquele Jack Twist?
_ Às vezes. […].
_ Sabe, […]  eu me perguntava como é que você nunca trazia nenhuma truta para casa. Sempre dizia que tinha pescado um monte. Entã0, uma vez abri sua cesta de pesca antes de uma daquelas viagenzinhas, ainda com a etiqueta de preço depois de cinco anos, e amarrei um bilhete na ponta da linha. Dizia: “Oi Ennis, traga uns peixes para casa, beijos, Alma”. E aí você voltou e disse que tinha pescado um monte de trutas e comido todas elas. Lembra? Olhei na cesta quando tive a a oportunidade e lá estava o meu bilhete ainda pendurado e aquela linha nunca tinha encostado em água na vida […].
A coitada sempre soube da relação do marido com Jack, desde o dia em que viu o vaqueiro pela primeira vez. Mesmo assim, vez-se de esposa modelo sem pedir-lhe nada em troca, na esperança que um dia ele a amasse. Mas o coração de Enin pertencia a Jack e isso não é algo que se possa lutar.

O filme foi de uma percepção ímpar. Conseguiu extrair desse pequeno conto um enredo que emociona até o mais ferrenho dos homofóbicos (e por favor, se você for um (a), estou dispensando seus comentários abaixo desse post). Já o livro não: você lê em 40 minutos e fica com uma cara de paisagem pensando “Ué, acabou?”.

Portanto, se ainda não assisiu ao filme e nem leu o livro, recomendo que dê prioridade ao primeiro para depois ler o conto de Proulx  e extrair uma experiência mais “profunda e completa”, por assim dizer.


- Resenha escrita por: Igor Silva

7 comentários:

  1. Nossa, não sabia que esse filme era baseado em um livro... Já vi o filme...
    Tenho q dizer que é algo diferente... Não estamos acostumados com esse tipo de relação/situação.

    Enfim, eu gosto de livros pequenos, com menos de 100 paginas, mas pelo que falou, não vou gotar muito desse... Não pretendo ler..

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  2. Nossa ,eu sabia que existia o livro ,mas como temos essa concepção de sempre o livro ser melhor do filme era algo que talvez eu le-se depois.
    Me surpreendi mesmo com o que vc disse aqui Igor,realmente acho lindo esse filme (e sou contra qualquer comentario homofobico tb)e sempre me vi pensando o seguinte "Caran se o filme é bom assim imagina o Livro".Bom como eu sempre confio ,e sei que posso confiar no seu lado crítico,é algo realmente que nem da vontade de ler...Também acho que com o tema que a autora teve,como esse, ela poderia explorar muito mais que 72 páginas né !!

    Mas enfim,adorei a resenha como sempre...ta de parabéns Igor ^^ (doida pra saber qual vai ser o proximo livro)

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  3. Nossa, tá. Tenho que dizer que nem sabia da existência do livro, mas quando comecei a ler a resenha aqui, pensava que o livro tinha, sei lá, umas 300 páginas. Porque como eu já vi o filme, que aliás, é bem comprido, achei que o livro fosse maior, até você dizer que tinha 72 páginas.
    A resenha está realmente muito boa, e pelo que você disse, acho que a adaptação para o cinema foi bem feita.
    Só que, como assim não tem divisão de capítulos? Eu confesso que ODEIOO quando isso acontece! Fico toda perdida na livro, mas enfim, com um livro tão pequeno, não sei se seria bom dividi-lo mesmo em capítulos :S
    E é isso! Parabéns pela resenha :)
    Beijoo :*

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  4. HAHAHA adorei a resenha. Tipo, uma vez tava eu e meus pais vendo esse filme. E quando chegou na tal cena, meu pai disse que nao ia ver o filme, e desligou. UHEUIHEUIHEUI É que a gente não fazia ideia de que assunto era. mimimi ;_;
    E ele nao é homofobico, mas eu tinha 12/13 anos, entao nao queria que eu visse esse tipo de coisa. UIHEUIHEUHEI

    :*

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  5. Ei Igor,

    Também raramente considero o filme melhor do que o livro, mas existem outros... P.S. Eu te amo o filme emociona bem mais que o livro, e a série Dexter pelo menos pelo primeiro livro, melhor ver a série do que ler rsrs

    Adorei a resenha, não sabia do livro, o filme já vi algumas vezes e amei. Pena que é fininho, também acho q é muita história para pouco livro.

    P.S: Tbm achei estranho mas pelo que tinha pesquisado é o mesmo sim, ele tem até um blog que fala sobre assuntos nada haver com o estilo da saga rs

    bjoo

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  6. Que resenha perfeita! Eu amo demais o filme, sempre choro quando vejo. E uma amiga me enviou o conto, mas não sabia que ele deu origem ao filme, pensava que o livro era grosso e tals. Mas acho que vale a pena ler.
    Beijos

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